MEMORABILIA
19/03/2009
- Estamos mais próximos do encerrar de outro cíclo. Mais uma vez o cerco é serrado, mais pesado e mais penoso. Cada vez menos e, contudo, tentando manter a força vigorosa que nos segura, tudo parece ter um fim...
- Em 2007/2008 fomos obrigados a subtrair uma parte de nós, uma parte de mim, sobretudo e que jamais foi ou será substituída ou preenchida... Este ano de 2009 serão subtraídas as duas peças que me restavam da minha jubilosa e perfeita 'Trindade'. Não é que não tenha outros em quem me apoiar, muito pelo contrário; mas cada pessoa é única para mim e, desde logo, insubstituível. Podemos dizer que consigo amar muita gente ao mesmo tempo mas cada uma dessas pessoas por si.
- Arrisco a dizer-me incompreendido mas sou assim por natureza e há histórias nas quais a gente sabe de antemão que não seremos eternizados, nas quais também não o queremos...
- Por vezes pergunto-me se os outros se apercebem da minha presença ou até da minha ausência como eu pressinto a deles. Eu sei que sou alguém que muito fala e pouco diz concretamente...mas será que se apercebem que as muitas metáforas e as muitas imagens que uso ainda dizem mais do que o que é dito no discurso? Aborreço-me. Canso-me. Mas o sorriso estará sempre presente para ser visto, ou não...
O Homem é deveras um bicho esquisito... e ainda mais esquisitos são aqueles que pensam e ainda perdem tempo a pensar os outros e a si mesmos. Sou alguém que se apega às coisas às quais dou muito significado - que por vezes não têm -, mas também me apego demais às pessoas; por elas e por mim mesmo quero que sonhem, quero que riam e quero que chorem as mágoas (apesar de não me ser possível fazê-lo 90% das vezes). Choro porque me fazem falta, choro porque se ausentam, choro porque se perdem sem compreenderem, choro porque as vejo chorar e porque compreendo...
Trago no meu peito vontade de amar; trago no peito um enorme desassossego por isso me ser essencial. Nunca esqueço e só me apetece não recordar porque para mim recordar é viver mas também é chorar. Tenho a infelicidade de pensar muito e sentir ainda mais; tenho a infelicidade de me sentir demais e de ter, contudo, uma alegria que me chega a perturbar e assombrar. Tive, pela primeira vez na Faculdade, a infelicidade de reconhecer a minha infinita capacidade de amar e compreender os outros e, contudo, tudo e todos me parecem cada vez mais distantes, escapando-me entre os dedos porque eu próprio abro as mãos...
Agora, quando vejo a minha 'Trindade' desaparecer apercebo-me ainda mais da minha impotência. Talvez não as tenha protegido como devia; talvez não as tenha incentivado e alegrado nas horas mais difíceis...Talvez não devesse...
Acima de tudo lamento. Lamento-nos, lamento-as, lamento-me; mas sei que nunca me abandonarão e sei que nunca remendarei um rasgão na minha capa; tal como nunca remendei o meu coração.
«Nunc et in hora mortis, amor et amicitia omnia vincit»
Preso no ventre do mar
O meu triste respirar
Sofre a invenção das horas,
Pois na ausência que deixaste,
Meu amor, como ficaste,
Meu amor, como demoras.